2020/07/28
Clube dos Genocidas rejeita Bolsonaro
Saiba o que aconteceu quando o inferno soube que o presidente Jair Bolsonaro foi acusado de genocídio (até mesmo no Tribunal de Haia)
O Sátiro Estagiário, de coque samurai e barba por fazer, entrou de uma vez e atrapalhou o carteado no Sétimo Círculo do Inferno, no muquifo estilo Centro Acadêmico dos Genocidas Veteranos.
Com o ranger do portão, Átila acordou sobressaltado e, dentes à mostra, ameaçou avançar no mensageiro. Impediu-o Nero.
Nu, o Imperador meteu o pé na frente, fez o Huno tombar, emborcou nele o galão de vodka do Tio Joe e incendiou o bárbaro com a tocha que iluminava o cubículo.
Possesso com o desperdício etílico, Stálin engatilhou sua Korovin e, sem mais, estourou os miolos do patrício romano.
No ato, Robespierre largou seu Rousseau, examinou o cadáver por cima dos óculos redondos, e riu, riu sardonicamente.
Na barafunda, Hitler viu razões para tentar, pela milionésima vez, dar cabo no líder soviético. Não obstante, como sempre acontecia, no que mirou no russo, a mão tremelicou, ficou fora de controle e acabou atirando na sua própria têmpora. Suicidou-se novamente o velho nazi e todos caíram na mais perversa gargalhada.
— Basta! — gritou Napoleão, jogando seu chapéu na mesa. — Deixem o mensageiro falar, seus demônios!
Como todos temessem o gênio intratável do corso, fez-se de pronto um silêncio absurdo, constrangedor.
Dali um tanto, Átila, chamuscado, deitou no seu colchão de ossos; Nero, mais zureta que de costume, ficou zanzando pelo cômodo, praguejando os cristãos; Hitler, fugindo de olhar para o rival das Estepes, ajeitou a farda, cuspiu na mão e lambeu o cabelo. Todos se voltaram ao menino dos recados.
— Boa Noite Eterna, camaradas. Vim para lhes mostrar uma notícia da Terra — e sacudiu um exemplar da Folha de São Paulo. — Estão dizendo que tem um novo genocida na praça; e mais: um genocida brasileiro.
Fidel Castro cuspiu o charuto, arregalou os olhos, abriu um sorriso:
— No Brasil!? O hermanito Lula? Já estamos com La Patria Grande?
— Não, não — meneou o Sátiro — o presidente Lula depois que saiu da cadeia virou personagem menor, youtuber de baixo tráfego. Tá flopado, como diz a galera.
— Quem então? O Ciro, o Boulos? Ah, não… não me diga que a Marina…
— Bolsonaro — disse o mensageiro. E mostrou a capa da FSP com o presidente mostrando à ema do Palácio da Alvorada uma cartela de cloroquina.
Os circunstantes, com beiço arquejado e testa franzida, perguntaram-se quem seria o novo companheiro de crimes contra o gênero humano.
— Até agora não tinha chegado nenhuma notícia desse aí — interveio o Mao Tsé-tung, afetando desdém, mas no fundo preocupado com seu recorde de cadáveres. — Esse é perigoso mesmo ou é mais um desses tiranetes latino-americanos?
Castro mostrou-lhe o dedo do meio. Mao devolveu-lhe o insulto.
— Segundo a Folha de São Paulo e o Felipe Neto — respondeu o Estagiário — ele matou 80 mil pessoas em quatro meses. O seu nome já está no Tribunal Internacional de Haia.
Formou-se um intenso alarido, comentários de admiração:
“Poxa, parece promissor.”
“É, tem muito talento, inegável”
“Em quatro meses eu nunca bati essa marca, surpreendente.”
Robespierre, interessado, fez cessar o falatório:
— E o que mais diz aí, Enzo?
— Hmm, deixa eu ver: diz que dois ministros da Suprema Corte brasileira confirmam os crimes, pipipi popopó, que a mídia internacional também o está denunciando...
— Tá — disse morosamente o balofo Gengis Khan — mas como é que esse aí mata as pessoas? Espadas, cutelos, lanças? Bebe vinho nos crânios?
Kim Jong-Un zombou:
— Ha-ha-ha! Que antiquado! Nunca ouviu falar em fuzilamentos, bombardeio urbano, gás letal, ogiva nuclear? — E exibiu o seu detonador mundial, que estava sem bateria.
— E isso é lá arma de homem, seu fedelho? — Rebateu o mongol, na lata, já sacando um punhal e chamando o coreano pro combate.
Melindrado, Kim recuou, guardou o brinquedinho e foi se sentar ao lado do seu pai — que o aconselhou a não dar ouvidos, que o Gengis era assim por causa da idade, etc.
Curioso, Robespierre refez a pergunta:
— S’il vous plait, nobre Enzô, explique-nos como é que esse Bolsonarô mata suas vítimas?
— Bem, não ficou muito claro, mas parece que ele mata de doença.
— Caramba! — Empolgou-se Kim, se desvencilhando dos braços paternos. — Guerra bioquímica! Não sabia que o Brasil também estava nessa. Olha, até eu achava meio imoral… Como é, ele “deixou vazar” um vírus mortífero, passou com drones despejando a praga nas cidades mais populosas?
O Sátiro se encabulou:
— Na verdade, o vírus veio da China. E, na real, o jornal só diz que o Bolsonaro matou com mau exemplo…
Os tiranos começaram a estranhar aquele papo, a olhar com desconfiança ao jovem informante.
Hitler advertiu, com cara terrível:
— Rapaz, espero que não seja uma pegadinha. Não é sempre que temos folga para um baralho, para uma conversa entre amigos. É raro, muito raro. Se você estiver com brincadeiras…
— Não, não, Führer, não culpe o mensageiro. É o que dizem na Folha de São Paulo, no Estadão, n’O Globo. Saiu até no The New York Times. Vou lhes fazer um resumo:
O mundo vive uma epidemia. Um vírus misterioso surgiu em Wuhan e se espalhou por todos os continentes.
No Brasil, a doença chegou em março, mas em fevereiro o governo desse Bolsonaro tentou proibir o Carnaval, de maneira que as pessoas não se expusessem perigosamente e tals.
Porém os outros políticos não deram bola e fizeram um baita Carnaval, pularam com os foliões, e a praga se disseminou, contágio comunitário blábláblá. Daí o genocida decretou emergência nacional e tomou uma série de providências para ajudar a população… Opa, opa, calma aí, esperem — disse ao perceber a hostilidade que se formava — deixa eu terminar.
Napoleão deu-lhe o aval.
— Segundo os jornais, nesse meio tempo ele quis convencer a população de que a doença não era tão grave assim, que era só uma "gripezinha". E então, para dar provas, passou a frequentar manifestações, a cumprimentar o populacho nas ruas, a muvucar nos comércios, a fazer churrascos com amigos. Uma vez, como bem mostrou o Felipe Neto — sou assinante do seu canal —, o presidente assoou o nariz e tocou em apoiadores, com a mesma mão. A MESMA!
— Hmm, e essa doença é fatal como a peste dos meus tempos, certo? — Perguntou o Khan, tentando captar a crueldade do ato.
— Não, não, longe disso… Mata que nem as influenzas, a pneumonia; pra jovem, é praticamente inofensiva...
Começou um novo tumulto: os condenados, fulos, possuídos, queriam enxovalhar o emissário, sem chance de novas desculpas.
Robespierre, mais controlado, pediu a palavra e resumiu sobriamente a indignação geral:
— Mon chéri, vós nos anunciastes, a nós, gente séria no que fizemos, um novo genocida. No entanto, ficas tergiversando, dizendo que ele não matou um só homem com as próprias mãos, que não aspergiu perdigotos contaminados no céu de sua Nação, que, ademais, fez programas governamentais para SALVAR VIDAS. Mon amie, já viste algum genocida esquentar a cabeça para salvar alguém? Citoyen, reparaste que meus amigos estão perdendo a paciência? Se não nos contar, já, agora, algo de relevante… — e o fitou com uma frieza aterrorizante.
— Já disse, turma, está nos jornais do Brasil. Não me culpem, só achei que vocês gostariam de conhecer o novo membro do grupo…
Robespierre piorou a encarada.
— Bom, ainda não contei sobre a cloroquina…
Foi dizer isso e a tensão se desfez. Num estalo, os déspotas universais supuseram adivinhar o truque do facínora caçula:
“Ah, sim, está claro: ele envenenou a população”
“Matou dizendo que remediava, brilhante!”
“Bem sádico, terrível!”
“Um gênio do mal”.
No meio do bulício, alguém gritou: “Ora, senhores, deixem ele terminar!”.
Enzo pigarreou:
— É assim: segundo os jornais, Bolsonaro tem oferecido à população, insistentemente, um remédio que não tem eficácia comprovada. Tá certo que é um remédio usado a décadas e que só muito raramente mata alguém. Na real, uma pá de médicos do mundo inteiro tem usando. Inclusive um pesquisador francês, que parece bruxo, defende com unhas e dentes o uso dessa droga, disse ter salvo uma galera etc. e tal...
Foi a gota. A horda de ditadores partiu para cima do pobre Estagiário com fúria demoníaca. A sorte momentânea do rapaz é que Nero, num repelo de lucidez, sugeriu:
— Pede pra ele ler as notícias que saem na internet. Esses jornais aí só servem pra alimentar incêndio…
Foi como se desligassem os disjuntores de um prédio em curto. De pronto os ânimos baixaram e os déspotas foram voltando a si. Bonaparte retomou as rédeas da situação:
— Você tem acesso a esse negócio de internet, meu filho?
****
Milhões de anos mais tarde, na mesma sala, eles ainda rememoravam o caso, rindo de doer a barriga:
— Daí ele viu no celular — contava Castro na roda acrescida do Xi Jinping, da turma da Planned Parenthood, muitos outros —: “STF tira poder decisório do Bolsonaro”! Quer dizer, o genocida não tinha nem dominado a Justiça, a Corte MANDAVA nele! Até prefeito tinha mais poder!
E riam, riam, riam.
Stálin relembrou:
— Como era o negócio? O homem distribuiu 60 bilhões de reais aos governadores e prefeitos INIMIGOS para segurar as contas do país, e mais 7 bilhões pros proletários NÃO morrerem de fome. Não morrerem de fome!
Cascavam o bico, rolavam no chão.
Com muita dificuldade, o abdômem em cãibras, Hitler falou:
— E a história de que o país do “genocida” — desenhou aspas com as mãos — foi o recordista em recuperados da doença. Recuperados! Lembram da cara do Estagiário quando leu isso?
A esta menção, todos se voltaram à cabeça empalhada do Enzo que enfeitava a parede da cela. O clima ficou pesado.
Mao, com alguma nostalgia na voz, com alguma humanidade nos gestos, rompeu o silêncio:
— É, pelo menos ele parou de espalhar fake news…
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