2024/04/15

A esperança da paz e a permanência das guerras


No dia 30 de julho de 1932, Albert Einstein postou uma carta no pequeno vilarejo de Caputh, perto de Potsdam, na Alemanha, dirigida a Sigmund Freud, tratando do tema da “guerra e da paz” entre os homens e as nações. Nessa carta, Einstein perguntava a Freud como ele explicaria a permanência das guerras, através dos séculos e de toda a história humana, e perguntava também se Freud considerava que fosse “possível controlar a evolução da mente do homem de modo a torná-la à prova das psicoses do ódio e da destrutividade”. Desde Viena, Freud respondeu a Einstein que, do ponto de vista de sua teoria psicanalítica, “não havia maneira de eliminar totalmente os impulsos agressivos do homem”, apesar de que fosse possível “tentar desviá-los num grau tal que eles não necessitassem encontrar sua expressão na guerra”.

Mas ao mesmo tempo, na sua “carta-resposta”, Freud colocou uma outra questão, aparentemente insólita, dirigida a Einstein e a todos os demais “homens de boa vontade”: “por que o senhor, eu e tantas outras pessoas nos revoltamos tão violentamente contra a guerra, mesmo sabendo que o instinto de destruição e morte é inseparável da libido humana?”. E se apressou em responder, falando para si mesmo, “a principal razão por que nos rebelamos contra a guerra é que não podemos fazer outra coisa. Somos pacifistas porque somos obrigados a sê-lo, por motivos orgânicos, básicos […], temos uma intolerância constitucional à guerra, digamos, uma idiossincrasia exacerbada no mais alto grau”.

Tudo indica que Freud conseguiu identificar, acertadamente, a ambiguidade dos impulsos naturais dos indivíduos que poderiam estar por trás de uma história coletiva da humanidade, marcada por uma sucessão interminável de guerras que se sucedem de forma quase compulsiva, a despeito de que a maioria das sociedades humanas considera e defende a “paz” como um valor universal. Mas apesar disto, não existe até hoje nenhuma teoria que tenha conseguido explicar como essas guerras deram origem a uma sucessão de “ordens éticas internacionais” que duraram até o momento em que foram destruídas ou modificadas por novas grandes guerras, e assim sucessivamente, através dos séculos. Como aconteceu com a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), e com a assinatura da Paz de Westfália, em 1648, que deu origem ao sistema de Estados nacionais europeus que depois se universalizou e foi sendo modificado ao mesmo tempo pelas guerras entre os europeus e depois entre os europeus e o “resto do mundo”, nos séculos XVIII, XIX, XX e XXI.

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